Quase Natal

A beleza do gelo esconde a maldade de sua superfície irritantemente lisa. Apesar de todo o brilho que o gelo dá à calçadas, carros e qualquer outro objeto outrora ignorado pela falta de cores, ele também me causa dor.

Meus músculos se contraem como forma de me firmar no chão escorregadio. Minhas mãos ficam doloridas e sinto as suas extremidades queimarem. O simples ato de abrir e fechar as mãos se torna uma tarefa digna de boa tortura!

O gelo que se acumula nas calçadas quase me impedem de sair de casa. Mas penso duas vezes e agradeço, mais uma vez, o privilégio de poder experimentar (e me dar o direito de odiar de vez em quando) o gelo, a neve, o frio.

Com quase 4 cm de gelo acumulado na entrada de casa, me equilibro todas as vezes que eu entro e saio pela porta. O esforço para me manter em pé não é diferente nas ruas que me levam ao city center e estação de trens. É fácil perceber que as temperaturas amenas (e coloca amena nelas) fez com que as compras de última hora, tão comuns no Brasil (talvez mais comuns que as compras antecipadas), fossem feitas de maneiras não convencionais, ou melhor online. Os correios ingleses já mandaram avisos dizendo que não estão dando conta de toda a demanda, e para dificultar, o gelo nas estradas faz com que alguns lugares da Grã-Bretanha ficasse praticamente inacessíveis, acumulando mais e mais pacotes de presentes, que infelizmente, só chegarão a seus destinos bem depois da passagem do bom velhinho. Triste de pensar que diversar crianças não receberão seus presentes na manhã de Natal.

A previsão do tempo passou a ser algo indispensável em meu dia. Quero dar adeus à camada de gelo, quero poder andar sem dificuldades, CORRER! Não, agora correr é um atentado aos bons costumes e ética! Não se corre quando a maior parte das pessoas não consegue se quer andar alguns metros sem dar uma patinada.

Hoje chove, e já vejo as ruas serem lavadas e a camada sólida de gelo começa a derreter. Temo pela noite. É durante a noite que as temperaturas são as mais baixas e aí as poças de água, gelada, se congelem, transformando em novas e maiores poças de gelo.

 

Papai Noel, eu sei que eu reclamo de frio, de neve, de gelo, mas, por favor, será que da para mandar uma nevezinha no Natal. Só para ter aquela coisa de White Christmas. Pode ser?

 

Frio, bem frio

Quem está no hemisfério norte, principalmente Europa e Grã-Bretanha* sabem bem a diferença de um dia BEM frio (-2°C prá baixo) e de um dia de neve.

O dia de neve é lindo! Tudo branquinho, neve até o tornozelo, nada funciona, cafés lotados, váááárias pessoas tirando fotos pela cidade, crianças jogando bolas de neve nas outras, namorados dando tackle nas namoradas para que elas caiam e se “sujem” de neve e deixe de ser frescas, e coisas do tipo. Com o passar do dia, e do frio, as coisas não ficam lindas, conforme eu falei no post da neve.

Mas o dia frio, BEM frio, consegue ser pior que o dia da neve, com ruas deslizantes. O dia frio, BEM frio, faz com que você não consiga respirar pelo nariz, e sim pela boca. O ar gélido, que entra pela sua boca, quase congela sua garganta. Não demora muito e você começa a sofrer as consequências, ou melhor, A CONSEQUÊNCIA: dor de garganta. Inevitável.

A média dos -2°C faz com que os carros congelem. Uma crosta de gelo (e não neve) se forma em sua lataria. A única forma de poder dirigir o carango é, antes de qualquer coisa, jogar água quente no vidro, ligar o carro, deixar ele ligado com aquecedor por alguns momentos até que possa entrar sem congelar. As ruas ficam perigosas. A falta da neve nos faz ficar confiantes e esquecemos do gelo que se forma nas calçadas e ruas. É mais comum ver pessoas deslizando agora do que quando com neve.

O ar gélido faz com que as pontas dos dedos fiquem roxas, como que se as unhas estivesse cobertas por uma camada de esmalte roxo. Ao adentrar qualquer estabelecimento com aquecedor, as pontas dos dedos queimam, como se estivessem dentro de um forno. O nariz se torna um órgão do seu corpo completamente inútil já que, no meu caso, respirar por ele é, apenas, uma vaga lembrança. Minha garganta já está pedindo socorro há tempos, e minhas pobres orelhas… tão pequenas (tenho orelhas e pulsos minúsculos, que viram motivos de chacota, então, caros leitores, espero que vocês sejam adoradores de pulsos e orelhas pequenas – short story: estava numa loja, querendo comprar relógios. Sempre gostei dos modelos masculinos, cebolão. Perguntei à vendedora se havia algum que tinha a pulseira ajustável. Ela olhou para o meu pulso, pediu licensa, mediu com suas mãos, e deu uma risadinha, meio sem graça, e falou: Miss, you should really look for watches in the kids section) sofrem tanto! Não há protetores de orelhas, cachecóis e luvas que me esquentem.

Então, no final de mais um texto, sem pé, muito menos cabeça eu digo, mas por favor, não joguem isso contra mim no futuro: QUE SAUDADE DO CALOR! QUERO SUAR, QUERO LIGAR O AR CONDICIONADO, QUERO TOMAR BANHO E ASSIM QUE SAIR DELE DESEJAR NUNCA TER SAÍDO DEBAIXO D` ÁGUA. QUERO SENTAR NO BUTECO DO BAIRRO, SEGURAR UM COPO DE COCA SEM PENSAR QUE ESTÁ QUEIMANDO MEUS DEDOS, QUERO RESPIRAR PELO NARIZ E EXIBIR MINHAS ORELHAS! AI QUE SAUDADE DO CALOR!

*Os Britoes nao se consideram como parte da europa! Vai entender!